sábado, 7 de novembro de 2009

A novela não terminou - Carlos Chagas

Acabou a crise entre Legislativo e Judiciário, com a retirada do recurso do já agora ex-senador Expedito Júnior e a visita do senador José Sarney ao presidente do Supremo Tribunal Federal?

Nem pensar. Encerrou-se apenas o episódio surrealista do descumprimento, por uma semana, da decisão judicial que cassou o representante de Rondônia. Permanecem, porém, as causas do confronto entre o Congresso e os tribunais superiores, com ênfase para a Justiça Eleitoral.

Teria o Judiciário competência para anular aquilo que a vontade popular decidiu, através de eleições democráticas? É claro fazer parte das atribuições da Justiça julgar e condenar cidadãos eleitos através da fraude, da compra de votos e sucedâneos. Só que depois da condenação o poder de cassar mandatos deveria pertencer à respectiva câmara do condenado. Seriam os representantes do povo a assumir a responsabilidade de afastá-lo.

Dar à justiça essa prerrogativa atropela o princípio maior da representatividade. Quando o Tribunal Superior Eleitoral condena um governador, deveria transferir para a Assembléia Legislativa a decisão final, da mesma forma como na condenação de um senador ou de um deputado, deixando que o Senado ou a Câmara assumissem o ônus da cassação.

Dirão muitos que o espírito corporativo dos políticos terminaria por anular as condenações judiciais, deixando de dar-lhes seqüência. Seria um risco a correr, mas evitaria a situação de cidadãos sem voto, os juízes, interferirem na soberana decisão do eleitorado. Além de impedir uma sucessão de soluções divergentes, porque num caso o Judiciário convoca o segundo mais votado, em outro determina a realização de novas eleições e num terceiro entrega o poder ao presidente da Assembléia Legislativa correspondente. Quer dizer, não há regras fixas, ficando cada caso à mercê da opinião de quem julgou os processos.

Existe um segundo fator a determinar o choque entre Judiciário e Legislativo. Pela inoperância deste, aquele ocupa espaços indevidos. À falta de uma legislação detalhada, a Justiça Eleitoral tem avançado além de suas atribuições. Trata-se da repetição daquela imagem popular de que “em casa onde não tem pão, todos brigam e ninguém tem razão”. Erra o Congresso por não votar as leis necessárias ao processo eleitoral e político, mas também erra o TSE ao determinar posturas e posicionamentos que caberiam apenas aos parlamentares ungidos pela vontade do eleitorado.

Tem saída? Pelo menos a curto prazo, não. Deputados e senadores, de um lado, ministros dos tribunais superiores, de outro, continuarão em confronto. A novela não acabou. Apenas, mudou de capítulo…

A alma dos telefones

Discursou o senador Cristóvan Buarque, do PDT, protestando contra a pouca atenção dada pelo governo à cultura nacional. Num arroubo de oratória, disse que o Brasil tem corpo, mas carece de alma. As realizações materiais se sucedem, a economia vai bem, mas falta ao país aquela característica fundamental que liga a sociedade aos governantes. Sem maciços investimentos na cultura a população continuará espectadora, jamais partícipe do desenvolvimento. Para exemplificar a imagem, o senador pelo Distrito Federal afirmou que os telefones, por exemplo, tem alma. Toda a parafernália eletrônica de que são constituídos os aparelhos só funciona pela vontade dos usuários de acioná-los…

Frente parlamentar do diploma

Está sendo constituída na Câmara a Frente Parlamentar do Diploma, grupo de deputados comprometidos em restabelecer por lei a exigência de curso superior para o exercício da profissão de jornalista. Nada mais justo, depois da discutível decisão do Supremo Tribunal Federal de acabar com o diploma.

Seria uma forma de interromper a perigosa progressão iniciada pela mais alta corte nacional de justiça. Porque já se fala na supressão do diploma para professor. Argumentam que como cada um tem o direito de escrever, também deve possuir a prerrogativa de ensinar, sem necessidade de passar pela faculdade.

Estão misturando as bolas. Não existe impedimento para quem quiser escrever e ter publicados seus escritos na imprensa. Poderá fazê-lo, como sempre pode, na condição de colaborador. Ser jornalista não é ser melhor nem pior do que escritor. Apenas é diferente, pois exige do profissional conhecimentos ordenados da prática da comunicação social, desde a edição, a diagramação e a seleção até política, economia, filosofia, ética, geografia e quanta coisa a mais, apreendida com mais sistematização nos bancos universitários.

Da mesma forma os professores. Todo mundo pode ensinar, desde o pai aos filhos, em casa, ao garçom do restaurante, o motorista do ônibus e a torcida do Flamengo inteira. Agora, para transmitir conhecimento ordenado aos alunos, o professor precisa capacitar-se. Aprender de que forma sensibilizará e irá interessar os jovens.

Só falta mesmo tentarem acabar com o diploma de médico e de advogado. Ou o açougueiro ali da esquina não é um craque na arte de cortar carne, assim como o camelô da avenida, um mestre na oratória?

Juristas de alto saber

Houve um presidente da República que nomeou para o Supremo Tribunal Federal o seu médico particular e um general seu amigo. Nada contra a honorabilidade dos dois, muito menos contra a capacidade do médico ao diagnosticar doenças e do general ao comandar a tropa. O diabo é que, de juristas de alto saber, não tinham nada.

O presidente era o marechal Floriano Peixoto, que assim agiu para menosprezar o Supremo. Havia mandado prender quatro deputados, coisa que a Constituição impedia. Quando Rui Barbosa entrou com habeas-corpus em favor dos detidos, um auxiliar indagou o que aconteceria caso o Supremo Tribunal Federal concedesse a liminar. Resposta do marechal: “e quem dará habeas-corpus ao Supremo?” É claro que o recurso foi negado, os deputados continuaram presos, Rui exilou-se na Inglaterra e um médico e um general foram nomeados para o Supremo…

Fonte: Tribuna da Imprensa Online

domingo, 19 de julho de 2009

segunda-feira, 16 de março de 2009

Protógenes defende invasão de terras de Dantas (Tribuna da Imprensa)



Protógenes promete grandes revelações quando for
depor, em abril


SÃO PAULO - O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz defendeu ontem em São Paulo que "ocupar fazenda de banqueiro bandido é dever do povo brasileiro''. Ele manifestou assim seu apoio à invasão da fazenda Espírito Santo, de propriedade do banqueiro Daniel Dantas, por 280 militantes do Movimento dos Sem Terra (MST), no último dia 28.

Protógenes foi o coordenador da Operação Satiagraha, que apurou possíveis ilegalidades cometidas por Daniel Dantas à frente do Grupo Opportunity. No dia 1º de abril, o delegado deve comparecer à CPI dos Grampos da Câmara para explicar supostos abusos que teriam ocorrido durante as investigações. Protógenes foi afastado do caso.

Segundo o delegado, que ontem discursou diante de 70 militantes do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade, ligado ao PSOL, "no dia 1º, o povo brasileiro vai ver em que condições essas terras [as da fazenda Espírito Santo] foram adquiridas'', além de saber "quais os interesses escusos por trás disso aí''.

O encontro contou com a participação da presidente nacional do PSOL e hoje vereadora de Maceió, Heloísa Helena, que tratou o delegado todo o tempo por "herói''. Alguns ativistas vestiam camiseta amarela com inscrição em verde "Protógenes contra a corrupção''.

Foi nesse cenário que o delegado convocou os presentes a organizarem caravanas para, no dia 1º, em Brasília, "exigir a punição daqueles que saquearam os cofres do nosso país. E para impedir a punição daquele servidor público federal que cumpriu o seu dever''. Falava de si mesmo.

Interrompido por aplausos, prometeu explicar como se deu a participação no que chamou de "quadrilha'' de cada personagem "que tem relação espúria, corrupta, criminosa com o banqueiro bandido Daniel Dantas''.

Em pelo menos sete vezes, o delegado referiu-se a Daniel Dantas como o "banqueiro bandido''. E disse que, no Brasil, "falta punição''. Mencionou Bernard Madoff, preso na semana passada depois de se declarar culpado em um dos maiores escândalos financeiros dos EUA. "E o nosso banqueiro aqui? É homenageado e cortejado'', disse Protógenes.

A defesa de Daniel Dantas alega que houve irregularidades e atos persecutórios na investigação conduzida pelo delegado da PF. Fazendas do banqueiro no Pará são o alvo declarado do MST na região.

sexta-feira, 6 de março de 2009

"CartaCapital" destaca coerência da TRIBUNA (Tribuna da Imprensa - 6 e 7 de dezembro de 2008)



Justiça que tarda falha
Reprodução Herança da ditadura
e morosidade do
Judiciário resultam
no fechamento de
jornal histórico,
dirigido por Helio
Fernandes

SÃO PAULO - A Revista "CartaCapital" destaca, em sua edição que chegou às bancas ontem, que a TRIBUNA DA IMPRENSA "mostra coerência e firmeza em sua linha editorial e uma notável capacidade de sobrevivência".

A publicação lembra que o Editorial do último dia 2 conta como o jornal "foi forçado a interromper a circulação, devido à demora do ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, para julgar a indenização cobrada da União desde 1979, por perseguições na ditadura. O processo aguarda decisão em sua mesa desde abril de 2006".
Abaixo, a íntegra do que diz a "CartaCapital":

Por uma dessas ironias da história, a Tribuna da Imprensa, jornal fundado por Carlos Lacerda em 1949 e que serviu ao golpismo udenista do segundo governo de Getúlio Vargas ao início do governo João Goulart, deixou de circular por efeito retardado do golpe militar que seu fundador tanto desejou, embora tenha cortado laços com o Corvo bem antes do golpe de 1964.

O jornalista Hélio Fernandes, que o adquiriu em 1962, imprimiu-lhe outra orientação, criticou a ditadura e pagou o preço de dez anos de censura prévia, de junho de 1968 a junho de 1978 e de um atentado a bomba em março de 1981. Sofrendo o boicote dos anunciantes após a truculência da ditadura, o jornal mostrou coerência e firmeza em sua linha editorial e uma notável capacidade de sobrevivência.

Mas o editorial na primeira página da última edição, de 2 de dezembro de 2008, conta como foi forçado a interromper a circulação, devido à demora do ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, para julgar a indenização cobrada da União pelo jornal desde 1979, por perseguições na ditadura. O processo aguarda decisão em sua mesa desde abril de 2006.

Os empregados, que não receberam os salários de outubro e novembro, terão de esperar, sem receber, por uma possível solução. O jornal ainda não morreu definitivamente. A versão on-line continua a ser atualizada e Fernandes, de 88 anos, aposta na indenização para voltar a circular. CartaCapital espera que, no papel ou na internet, a Tribuna da Imprensa continue a prestar seus valiosos serviços ao pluralismo e à democracia e que a justiça tão protelada finalmente seja feita.